SINOPSE:
Um assassino em série anda à solta por Lisboa, mas ninguém sabe que ele existe. Não existe qualquer elo de ligação entre vítimas, locais ou método de morte. O assassino mata por puro prazer e acredita estar incógnito.
Até ao dia em que Rui, um jovem estagiário num jornal local, detecta um padrão em vários homicídios que o assassino deixou passar. Rui passa a informação a um jornalista da casa. Quando este aparece morto, Rui sabe que o próximo na lista será ele. O que ele ainda não sabe é que existem situações piores que a morte.
EXCERTO:
«Os
passos sublinhavam a iminência do perigo. Olavo estava escondido num
espaço exíguo, rezando para que não fosse descoberto. Com o
aproximar do som, encolheu-se ainda mais—como se tal fosse
possível—fechou os olhos e tapou os ouvidos para evitar ver e
ouvir quem vinha para o matar.
Conseguira
evitar aquele momento durante muito tempo—muitas vezes com grande
sacrifício—até que, por fim, entendera que não havia evitado
nada. Apenas prolongara o inevitável.
E
o inevitável estava cada vez mais perto.
A
porta abriu com um ranger irritante, quase em câmara lenta, apesar
de ter as dobradiças bem oleadas, e bateu na parede com um estrondo
que não fazia qualquer sentido perante as leis da lógica.
Indiferente
às leis que acabara de violar e pronto a violar mais algumas, o
assassino entrou na sala minúscula. Bem disposto pelo acto que
estava prestes a cometer, começou a fazer girar a faca de mato
enquanto chamava pela sua presa.
“Onde
é que está o meu pequenino? Onde está ele?”
Olavo
fechou os olhos com mais força e tapou os ouvidos com mais força
ainda. Era um homem de cinquenta e três anos mas, naquele momento,
sentia-se como uma criança de cinco, aterrorizada e paralisada pelo
medo.
Percorrendo
a sala, o assassino foi verificando os possíveis esconderijos.
“Está
escondido, é? Olha que eu vou apanhar-te.”
A
inevitabilidade da sua morte não era facto derivado da eficácia ou
eficiência de quem o perseguia. O seu assassino podia ser a pessoa
mais bronca do mundo, mas era difícil não ser apanhado quando não
havia muito sítio bom onde se esconder.
Como
qualquer bom assassino que se prezasse, o seu assassino—havia
qualquer coisa de possessivo
nisso—não
espreitou dentro do armário, não viu debaixo do sofá: os chamados
sítios óbvios. Em vez disso, sentou-se no sofá e fingiu
lamentar-se:
“Ele
está mesmo bem escondido! Acho que não o vou conseguir encontrar…
quebrando
o seu monólogo, cravou a lâmina na almofada do sofá e pressionou
até ao fim. Ouviu os gritos de dor, abafados pelos estofos e quando
sentiu que Olavo estava na iminência de partir para outro mundo
puxou a lâmina, terminando com o seu suplício.
…vivo.”»