O Limite do Medo, de Ricardo Neves



SINOPSE:
Um assassino em série anda à solta por Lisboa, mas ninguém sabe que ele existe. Não existe qualquer elo de ligação entre vítimas, locais ou método de morte. O assassino mata por puro prazer e acredita estar incógnito.
Até ao dia em que Rui, um jovem estagiário num jornal local, detecta um padrão em vários homicídios que o assassino deixou passar. Rui passa a informação a um jornalista da casa. Quando este aparece morto, Rui sabe que o próximo na lista será ele. O que ele ainda não sabe é que existem situações piores que a morte.


EXCERTO:
«Os passos sublinhavam a iminência do perigo. Olavo estava escondido num espaço exíguo, rezando para que não fosse descoberto. Com o aproximar do som, encolheu-se ainda mais—como se tal fosse possível—fechou os olhos e tapou os ouvidos para evitar ver e ouvir quem vinha para o matar.
Conseguira evitar aquele momento durante muito tempo—muitas vezes com grande sacrifício—até que, por fim, entendera que não havia evitado nada. Apenas prolongara o inevitável.
E o inevitável estava cada vez mais perto.
A porta abriu com um ranger irritante, quase em câmara lenta, apesar de ter as dobradiças bem oleadas, e bateu na parede com um estrondo que não fazia qualquer sentido perante as leis da lógica.
Indiferente às leis que acabara de violar e pronto a violar mais algumas, o assassino entrou na sala minúscula. Bem disposto pelo acto que estava prestes a cometer, começou a fazer girar a faca de mato enquanto chamava pela sua presa.
Onde é que está o meu pequenino? Onde está ele?”
Olavo fechou os olhos com mais força e tapou os ouvidos com mais força ainda. Era um homem de cinquenta e três anos mas, naquele momento, sentia-se como uma criança de cinco, aterrorizada e paralisada pelo medo.
Percorrendo a sala, o assassino foi verificando os possíveis esconderijos.
Está escondido, é? Olha que eu vou apanhar-te.”
A inevitabilidade da sua morte não era facto derivado da eficácia ou eficiência de quem o perseguia. O seu assassino podia ser a pessoa mais bronca do mundo, mas era difícil não ser apanhado quando não havia muito sítio bom onde se esconder.
Como qualquer bom assassino que se prezasse, o seu assassino—havia qualquer coisa de possessivo nisso—não espreitou dentro do armário, não viu debaixo do sofá: os chamados sítios óbvios. Em vez disso, sentou-se no sofá e fingiu lamentar-se:
Ele está mesmo bem escondido! Acho que não o vou conseguir encontrar…
quebrando o seu monólogo, cravou a lâmina na almofada do sofá e pressionou até ao fim. Ouviu os gritos de dor, abafados pelos estofos e quando sentiu que Olavo estava na iminência de partir para outro mundo puxou a lâmina, terminando com o seu suplício.
vivo.”»