SINOPSE:
Artur Marques é um agente da Brigada de Minas e Armadilhas, afastado do dever por conduta imprópria. Quando o seu irmão Vasco vem ter com ele, mais uma vez desesperado com problemas de dinheiro, Artur não tem como o ajudar. Como consequência disso, Vasco é raptado e Artur é obrigado a construir um engenho explosivo de grande potência em troca da vida do seu irmão. Artur cede à chantagem apenas para contemplar a morte do irmão através desse mesmo engenho.
Motivado pela dor, Artur decide perseguir os assassinos do irmão, ignorando que as coisas podem bem não ser o que parecem...
EXCERTO:
«Artur
Marques tornou a consultar o relógio. Faltava uma hora.
Os
últimos dias tinham sido passados em planeamento: tudo fora
preparado ao detalhe para não acontecerem falhas. Gostava de se
preparar com antecedência para cada um dos seus trabalhos. Era um
profissional cujos talentos não estavam ao alcance de todos, mas
sabia compensar esse investimento. Orgulhava-se das suas capacidades
pois, graças a elas, salvara muitas vidas.
Ironia
do destino ou justiça retorcida, o seu motivo de orgulho seria a
causa de morte de centenas, talvez milhares de pessoas.
Artur
tinha 43 anos, boa parte dos quais como membro do GOS – Grupo de
Operações Secretas – uma unidade militar de elite que realizava
missões secretas de alto risco dentro e fora do território
nacional. Durante quase vinte anos desactivara engenhos explosivos um
pouco por todo mundo. Não tinha um plano de carreira programado,
queria apenas salvar vidas e servir o seu país. Infelizmente, uma
decisão mal tomada privou-o desses intentos.
Não
foi uma decisão com consequências graves, mas poderia ter sido. Por
isso, fez o que achou melhor e abandonou o grupo. Os seus colegas de
equipa precisavam de alguém confiável e ele já não se sentia à
altura dessa responsabilidade. Nenhum deles o convenceu a ir, alguns
tentaram mesmo demovê-lo, só que Artur sabia que nunca mais
poderiam voltar a funcionar como um grupo coeso. O pior que podia
acontecer numa missão de vida ou morte era haver insegurança em
relação a algum colega.
Os
homens que haviam raptado o seu irmão sabiam que ele era o homem
perfeito para desactivar uma bomba. O problema era que ele não
estava ali para desactivar uma bomba e sim para construir uma. Artur
concebera o engenho requisitado e entregara-o em tempo útil. Sentia
que traía tudo aquilo por que sempre lutara, mas a vida do seu irmão
estava em risco. Sempre usara os seus conhecimentos para o bem.
Dentro de quinze minutos, iria ver testemunhar o efeito que os seus
conhecimentos teriam nas pessoas quando usados de forma destrutiva.
Estava
sozinho numa sala com um dos homens que levara o seu irmão e um
computador com o qual podiam observar as pessoas na estação de
metro do Rato, alheias ao destino que as esperava, através das
câmaras de vigilância no local. O ângulo das imagens mudava a cada
cinco segundos, porém estava limitado às dez câmaras instaladas na
plataforma.
Artur
queria não ter de olhar para aquelas imagens, mas evitava ao máximo
desviar o olhar do ecrã. Mantinha os seus olhos focados num
indivíduo dormindo num dos bancos, com um livro aberto no colo. Era
o único para quem conseguia olhar sem medo porque o seu rosto estava
tapado com um chapéu.
Olhou
para o relógio. Faltavam poucos segundos. E foi no último segundo,
no último plano, que alguém derrubou o chapéu e Artur viu que a
pessoa para quem ele estava a olhar era o seu irmão. A bomba
explodiu e as o ecrã encheu-se de estática.Antes que tivesse tempo de reagir, ouviu o homem atrás de si pressionar o gatilho.»