SINOPSE:
A vida não tem preço. A não ser que estejamos a falar com o Sr. Costa, o mais reputado assassino profissional a actuar em Portugal. Desde que lhe paguem, é o que interessa.
O Sr. Costa não tem amigos ou inimigos. É um profissional competente, que não engana ninguém. Mas nem todos são honestos como o Sr. Costa. Há quem, apesar do zelo, prefira atacar o Sr. Costa.
Porquê? O Sr. Costa não quer saber disso para nada. Se alguém o quer atacar, é melhor preparar-se para uma surpresa.
EXCERTO:
«Agachado
perante o cadáver, o Sr. Costa tocou-lhe na face ainda fresca com a
ponta dos dedos e sentiu um arrepio de prazer percorrendo-lhe o corpo
como um impulso eléctrico. Aquela era a parte de que gostava mais: o
instante logo a seguir ao último suspiro. Fechou os olhos e respirou
fundo, enchendo os pulmões com as exalações pútridas libertadas
pelo corpo da sua mais recente vítima.
Levantou-se,
tirou a sua máquina digital do bolso e tirou uma foto. Satisfeito
com o resultado, o Sr. Costa guardou o aparelho no bolso e terminou o
ritual com um acto de pouco simbolismo, mas de grande alívio para a
sua bexiga.
Deixou
o corpo onde estava—não fosse o senão de estar morto, poderia
apreciar a vista do Miradouro de S. Pedro de Alcântara—,
indiferente à exposição a que estava sujeito e subiu, confiante e
sorridente, até aos Jardins do Príncipe Real. Eram 4:20 da manhã.
A malta da noite subia dos bares e discotecas do Bairro Alto e
juntava-se ali para um lanchinho da madrugada antes de rumarem para
outro pouso.
Passou
os Jardins e virou à direita, na Rua Cecílio de Sousa. Desceu até
ao número 27. A porta era de metal, estava cheia de grafittis,
e a parede de fachada tinha um aspecto igualmente cuidado. Tirou a
máquina do bolso, retirou o cartão de memória e enfiou-o por baixo
da porta. Aguardou.
E
enquanto aguardava, o Sr. Costa tirou o tabaco do bolso, acendeu um
cigarro e aguardou mais um pouco. Ouviu algo sendo arrastado e olhou
para o vão da porta. Um envelope surgira do outro lado. Agachou-se,
pegou no envelope e abriu-o para espreitar o maço de notas de dez
contos que lá vinha dentro. O cartão de memória também lá
estava.
O
Sr. Costa sorriu. Até agora, tudo bem.
Repôs
o cartão de memória na máquina e guardou-a no bolso. Dobrou o
envelope e enfiou-o nas calças, cobrindo-o com a t-shirt.
Desceu até à esquina mais próxima e ficou à espera que os
ocupantes da casa saíssem.»