domingo, 29 de janeiro de 2012

MARKETING

Um Cappuccino Vermelho é um livro que me continua a oferecer desafios. Há cerca de dez anos ofereceu-me o desafio de escrever um primeiro romance. Actualmente oferece-me o desafio de tentar divulgar esse mesmo romance por todos os canais possíveis. Sendo eu o autor e o editor, sou obrigado a assumir as rédeas de toda e qualquer forma de divulgação. (Não contando, claro, com a publicidade feita por amigos e leitores.)
Tenho feito uma aposta muito grande nas redes sociais, criando uma conta no twitter afecta em exclusivo a Um Cappuccino Vermelho, além de constantes actualizações na minha página do Facebook. Os dois protagonistas do meu livro, Ricardo Neves e João Dias Martins tiveram e continuarão a ter direito às suas próprias contas no Facebook. Estejam à vontade para os juntarem à vossa lista de contactos.
Os dois protagonistas d' Um Cappuccino Vermelho assinaram vários livros antes deste. Podem consultar os livros publicados por estes dois autores e outros nas páginas oficiais da Fractalis Editora e das Edições Espiráleo.
Fora das redes sociais, podem sempre (re)ler uma entrevista, já aqui divulgada, publicada no Jornal do Barreiro.
A minha mais recente forma de divulgação é o book-teaser que pode ser visto no lado direito do ecrã. Foi a primeira vez que fiz algo do género e penso que não ficou muito mal para um amador.
Tudo isto tem sido muito trabalhoso, mas nada se ganha sem nada se fazer. Se vai resultar ou não, depende dos leitores.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CRIAÇÃO

Previamente publicado no meu outro blogue Protuberância:

Os últimos tempos têm-se revelado atribulados, embora muito compensadores. Quem me conhece sabe que não sou um praticante regular de exercício físico. Tirando uma caminhada ou outra que faço com prazer (seja por estar num sítio novo, seja por não querer esperar que o autocarro chegue), não desempenho muitos esforços físicos. É certo que não me limito só às caminhadas, mas como é suposto este blogue não ter conteúdos susceptíveis de ferir sensibilidades, limitemos-nos a considerar essa actividade que é andar a pé. 
 Tenho feito longos passeios com a minha cara-metade um pouco por todo o lado e, no regresso a casa, aquilo de que me apercebo com mais evidência é o fervilhar de ideias que povoam a minha mente. Não pretendo dizer com isto que é o exercício físico - seja ele qual for - que origina essas ideias. Na minha opinião elas estão lá sempre, são possibilidades de histórias e de temas que surgem da infinidade de combinações possíveis entre tudo aquilo que vemos e ouvimos. O exercício físico limita-se a pegar em alguns desses ingredientes e combiná-los numa fórmula que se espera nova.
A prática é o melhor professor e tenho aprendido muito nos últimos tempos sobre o meu processo criativo. Continuo a ter as minhas falhas, mas é impossível não as ter. Escrever não é fazer contas. Por mais que leia sobre construção de personagens ou sobre estrutura ou sobre diálogo, por muito que aquilo que eu escreva cumpra todas as regras duma boa história, por muito que seja uma boa história, a verdade é que o leitor poderá discordar. Sobre o meu processo criativo propriamente dito, aprendi que... basta uma imagem. É tudo o que preciso para começar.
No próximo mês de Fevereiro irei publicar o meu primeiro romance: Um Cappuccino Vermelho. A história deste livro, perdão, a história por detrás deste livro, começou com uma miúda com quem eu me cruzei no Metro. O aspecto dela e a sua postura combinaram-se com o que ia na minha mente e as rodas começaram a trabalhar. Neste caso, como eu já andava à procura duma ideia, ela limitou-se a ser a catalisadora. Com o livro seguinte - A Imagem - o processo foi muito mais cru e envolveu uma caminhada.
Ao fazer um passeio habitual, olhei para o muro branco duma propriedade privada, um muro extenso e alto, e pensei como seria se surgisse ali uma imagem do nada? E se essa imagem só pudesse ser vista por uma pessoa? E se essa imagem ganhasse vida? E quem seria essa pessoa? Porque razão é que a imagem apareceria somente para ela? De onde vinha a imagem?
A escrita de Um Cappuccino Vermelho tem a marca clara duma primeira obra e eu percebo isso não tanto na história, mas no modo como a história surgiu. Lembro-me o quão difícil era continuar a escrever depois da frustração que havia sido o dia anterior. Estava a dar os meus primeiros passos na escrita a sério e fartei-me de cair. Felizmente levantei-me e continuei a andar.
Sei que cresci dum livro para o outro, mas era impossível isso não acontecer. Afinal, cerca de sete anos separam Um Cappuccino Vermelho de A Imagem. E o tempo tornou-se um grande mestre. Estas duas histórias, apesar de ligadas tematica e narrativamente, foram desencadeadas por processos criativos radicalmente diferentes. Aquando do primeiro livro, eu andava à procura de ideias e quando esta surgiu o processo de escrita foi árduo, mas compensador no fim; já no segundo, andava tão ocupado com tanta coisa que nem pensava sequer em pensar em escrever um livro. Acontece que a criatividade não se importa com a falta de tempo. As ideias aparecem quando têm de aparecer, tenhamos nós tempo para as desenvolver ou não.
Eu não tinha tempo, mas estava curioso. Queria saber mais sobre A Imagem, sobre essa história que tomava prioridade sobre tudo o resto com que eu me deveria preocupar. Não tinha tempo, mas arranjei-o (se tal coisa é possível) porque queria saber onde é que a história ia. Tal como numa caminhada, foi um processo longo, embora não exaustivo. Ao contrário de Um Cappuccino Vermelho, em que eu tinha uma ideia rudimentar do que seria o final da história, a caminhada, perdão, escrita de A Imagem fez-se sem objectivo final. Assim como não sabia de onde a ideia surgia, também desconhecia para onde se dirigia. O mesmo acontece quando se faz uma caminhada: saber onde vamos terminar não é tão estimulante quanto partir rumo ao desconhecido.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

EXCERTO DO CAPÍTULO 6

O dia de amanhã promete ser atribulado com idas às Finanças, acertos finais de capa e o arranque (finalmente!) da impressão do livro. Caros e ansiosos leitores, falta pouco e já faltou mais. E para compensar o vosso apoio, aqui vai mais um excerto:
 
«João não queria, mas tinha de admitir: o dentista fizera um bom trabalho a arranjar-lhe os dentes. A dormência da anestesia, apesar de incómoda, estava prestes a dissipar-se.
Olhou para o relógio. Eram quase seis e um quarto da tarde. Tinha tempo de adiantar serviço.
Ligou o computador e tentou recordar-se do pequeno sonho que tivera lá na sala de operações. Talvez fosse de estar sob o efeito da anestesia. Talvez tivesse sido apenas uma inspiração efémera. Ou talvez não.
Acedeu ao programa de processamento de texto, abriu o ficheiro intitulado LIVRO e fechou os olhos. Durante os trinta minutos seguintes permaneceu imóvel, rígido como uma estátua. O único movimento que traía a sua imobilidade era o seu respirar lento e arrastado. Ainda com os olhos fechados, colocou as mãos sobre o teclado e escreveu por tópicos:
Assassino
Escritor
Livro
Contrato
Empenho
Namorada
Paixão
Traição
Poder
Morte
Abriu os olhos e leu o que escrevera. Os dez pontos essenciais da sua história. Agora só tinha de encontrar uma maneira de os interligar.
Olhou para a miniatura da Torre Eiffel em cima da televisão, escreveu l’amour sont trois jours, mas apagou a frase logo de seguida. Não gostava dela. Não por questões linguísticas; simplesmente não se sentia talhado para escrever romances cor-de-rosa. Fosse em que língua fosse.
E de que outra cor poderiam ter os romances? Azuis? O azul era e é a cor da melancolia e os romances, embora pudessem ter um pouco de melancolia ao longo da história, terminavam sempre com o final feliz, o happy ending, por assim dizer.
A sua história poderia ou não ter um final feliz mas, uma coisa sabia: de certeza que não seria melancólica. o azul e o cor-de-rosa não seriam de maneira alguma as cores que ele usaria para classificar o seu estilo de escrita.
Talvez o cinzento fosse a escolha mais lógica, o meio-termo entre o branco e o negro, a cor daqueles que por trás de uma fachada de bondade e ternura escondem um lado perverso e vil. E o vermelho. Afinal, um livro sobre um assassino profissional teria de ser um livro com bastante sangue. Mas não sangue gratuito. Sangue. q.b, acompanhado por mortes realizadas com estilo e perícia e gestos mecanicamente executados.
Quase como beber café. Café ou algo com mais estilo.
Algo como... um cappuccino.
Um cappuccino vermelho.
Encontrara o título por que tanto procurava. Escreveu-o no início da página. Em itálico – um cappuccino vermelho.
Este era o princípio do seu processo criativo. A partir daí seria tudo mais fácil. Era-lhe sempre mais fácil escrever uma história quando tinha o título. O título era o que continha todo o fio condutor da acção.
A narrativa encerrava-se naquelas poucas palavras, tornando-se um corredor através do qual a sua mente de escritor podia vaguear, abrindo uma porta aqui e ali conforme a necessidade se fizesse sentir. Uma vez encontrado o título era só percorrer esse corredor e abrir a porta ao fundo.
E a história terminaria.»
Um Cappuccino Vermelho (excerto do Capítulo 6)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

EXCERTO DO CAPÍTULO 1

«Quando tinha nove anos, Ricardo descobriu que era um viciado em café. A descoberta foi casual – motivada pela curiosidade que o caracterizava quando criança – mas, desde então, ficou enfeitiçado por aquele sabor único.
O seu mentor ensinara-lhe que para apreciar algo era preciso conhecê-lo verdadeiramente; era preciso estudar o objecto do nosso fascínio afim de percebermos o que nele nos cativava. Para melhor a apreciar, Ricardo estudou tudo o que havia a estudar sobre essa bebida que é o café.
Aprendeu acerca do sabor, das origens, assim como todas as formas de confecção possíveis e imaginárias. Descobriu que o café tinha origens árabes, que durante a Guerra Civil Americana os soldados transportavam café para os campos de batalha como alimento de primeira necessidade e que, como produto de importância global, era ultrapassado apenas pelo petróleo.
Aprendeu também o quão significativas podiam ser as suas influências culturais e sociais. A título de exemplo, Bach compôs uma cantata dedicada ao café e em Itália o café era considerado tão essencial à vida diária que era o próprio governo que estipulava o preço de venda.
Nos últimos três séculos, noventa por cento da população ocidental mudou do chá para o café. Ricardo sabia que o chá também tem cafeína, a chamada teína, mas para Ricardo o sabor do café era único.
Só depois de saber tudo isso, é que Ricardo bebeu café pela segunda vez.
O gosto pelo café sempre fora um elemento importante na vida de Ricardo, porém, ele mantinha esse gosto para si. Não se dava ao luxo de grandes extravagâncias. O seu bom gosto era suficiente para ter cuidado com a imagem e não aparentar o ridículo. Más coisas poderiam acontecer se ele não fizesse isso.
Para Ricardo, o café era uma bebida – uma bebida que ele adorava e sobre a qual sabia tudo, mas ainda assim – apenas uma bebida.
Gostava do café como bebida, digestiva, refrescante, estimulante, o que fosse. Um facto curioso que descobrira durante as suas pesquisas: exceptuando a temperatura, as outras faculdades do café só tinham efeito nele caso ele deixasse.
Isso deixava-o dividido. Por um lado, sentia-se especial na certeza – relativa, sublinhe-se – de que isso só acontecia com ele. Por outro lado, ter algo que o tornasse muito diferente dos demais, não lhe agradava muito.
Talvez não fosse só ele. Precisava de acreditar nisso. Talvez todas as pessoas tivessem essa capacidade de filtragem dentro delas. Cada uma reagindo a determinada característica.
Ou talvez o seu organismo estivesse já tão habituado ao café que a única coisa que ainda conseguia registar era o sabor e a temperatura.
Para muitas pessoas beber café era um acto mecânico. Algo que as juntava em grandes aglomerados, mas que não as acalmava, apenas as fazia ficarem nervosas e apáticas. Até que, por fim, o organismo se habituava tanto à substância que deixava de reagir e o café tornava-se um vício para a mente. Desde que iniciara a sua jornada no mundo da cafeína, Ricardo observara este padrão comportamental ocorrer sem grandes alterações.
De todos os estabelecimentos que visitara desde que iniciara essa sua jornada, aquele era sem dúvida o seu preferido. Um local longe da sua casa, é certo, mas que tratava o café como Ricardo achava que este o merecia: com respeito e dedicação. Ricardo admirava a grande variedade de cafés, sabores e combinações que ali estavam disponíveis. A sua preferida era o cappuccino.
Durante os seus estudos, aprendera que existem várias maneiras de preparar o cappuccino. Algumas pessoas juntavam chocolate, outras canela. Havia ainda quem preferisse só leite; por leite, leia-se natas. A temperatura era outro factor a ter em consideração na confecção desta bebida. Alguns preferiam o leite frio, quase gelado, outros, bem quente.
Para ele, a combinação perfeita era café bem quente com leite frio. Apreciava as propriedades estimulantes do café aliadas às propriedades calcificantes do leite. Recentemente – cerca de dois meses – descobrira que gostava de usar um pau de canela para mexer o café. Nunca prestara muita atenção às modas, ou às suas tendências, por isso o uso de canela era apenas motivado por escolha pessoal e nunca por qualquer opinião popular.
A canela dava um gosto diferente à bebida. Diferente e, ao mesmo tempo, estranho. Não se conseguia decidir se era bom ou mau, era estranho. Esse era um problema de muita gente – não saber tomar uma decisão sem ter tomar um ponto de comparação. Ricardo pertencia a esse género de pessoas.
Por vezes, esta sua peculiaridade comportamental tornava-se incómoda; na maioria das vezes, felizmente, era algo que o ajudava no seu trabalho. Cada trabalho era comparado ao anterior, tanto para o melhor como para o pior e isso fazia-o rever os seus erros.
Era uma fuga à rotina. Quem caía na rotina, caía no desleixo. Muitas vezes ouvira dizer isso. Todos os grandes profissionais – fossem de que áreas fossem – diziam isso. A rotina vicia o corpo e retarda os reflexos, faz o cérebro ficar mais lento.»

Um Cappuccino Vermelho (Capítulo 1)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

E ASSIM COMEÇA (EXCERTO DO PRÓLOGO)

«à distância ouvia-se o som distinto de tiros, seguidos de gritos de reprovação ou de encorajamento. Depois do ruído vinha a calma, sucedida por mais tiros, mais gritos e mais calma.
Luís fechou os olhos, ajeitou a almofada e tentou dormir. Continuava a ouvir os tiros e os gritos. Tapou a cabeça com a almofada para abafar o som, mas foi em vão.
Tinha quase cinquenta anos, estava com o Grupo desde que se lembrava e com aquele parceiro há quase trinta. Três décadas a trabalharem juntos e Luís continuava sem perceber: por que razão o seu parceiro insistia em treinar sempre àquela hora?
Farto de estar ali, Luís levantou-se e saiu da tenda.
Estava uma noite fria e sem lua. Os tiros e os gritos haviam cessado por ora. Ele sabia que iriam recomeçar muito em breve. O rito era o mesmo quase todas as noites.
Aguardou por um som que lhe revelasse onde estava quem ele procurava. O que ele menos queria fazer era começar a reclamar para onde não estava ninguém.
Veio nova sequência de disparos.
Luís esperou que os tiros parassem. Depois esperou que passassem os gritos. Só depois falou.
“Sabes que horas são? perguntou, irritado.
“O rapaz precisa de treinar,” respondeu-lhe uma voz a partir da escuridão. “Senão nunca atingirá o seu potencial máximo.”
“Ao menos usem um silenciador. Deixem-me descansar um pouco.”
O descanso é sobrevalorizado,” respondeu a mesma voz.
Luís desistiu. Era escusado. Deu meia volta e regressou à tenda.
Dias antes, por acidente, descobrira algo sobre o seu parceiro que o deixara preocupado. Sabia que ele era um bom agente, sempre disposto a cumprir a missão do Grupo sem hesitar. Luís suspeitava que ele fazia isso, não por um honrado sentido de dever mas, por pura satisfação pessoal.
A sua descoberta havia-lhe revelado que a satisfação pessoal era o menor dos seus motivos. A sua agenda era desconhecida, mas temia que não fosse coisa boa.
Ricardo era ainda uma criança, a sua personalidade estava em fase de desenvolvimento. A expressão potencial máximo referida em relação ao elemento mais novo do Grupo causava-lhe um arrepio na espinha.. Luís não se costumava assustar facilmente, porém as coisas tinham mudado.
Existiam poucas certezas quanto às origens de Ricardo, mas era inegável que ele era uma criança especial. Agora que Luís sabia que o seu parceiro preparava algo e que Ricardo podia ser uma peça fundamental desse plano, era importante protegê-lo.
E durante os vinte anos seguintes seria exactamente isso que ele faria.»

in Um Cappuccino Vermelho

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ENTREVISTA

O Jornal do Barreiro ficou a par do lançamento do meu primeiro romance e resolveu entrevistar-me. Podem ler a entrevista na íntegra aqui ou pagarem 0,75€ e comprar um exemplar. Até dia 5 ainda deve estar nas bancas.